Fonte: Economia em Dia
O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do terceiro trimestre, divulgado hoje pelo Banco Central (BC), reforça a expectativa que a taxa Selic permanecerá em 14,25% por um período prolongado. De um lado, a instituição aponta riscos ao cenário de inflação, especialmente vinculados à depreciação da taxa de câmbio e sua transmissão para os preços domésticos. De outro, ressalta que as expectativas de inflação se mantém próximas à meta de 4,5% no médio e longo prazo.
Na avaliação do BC, as perspectivas para a atividade global mostraram maior moderação no horizonte relevante para a política monetária, com um crescimento mais homogêneo das economias desenvolvidas e nova redução dos preços das commodities. No entanto, aponta que os riscos para a estabilidade financeira global permaneceram elevados. Em especial, chama a atenção para o impacto da maior volatilidade internacional sobre importantes economias emergentes.
No que se refere ao crescimento doméstico, o documento manteve a avaliação de que o seu ritmo neste ano ficará abaixo do potencial, em parte em função do impacto de eventos não econômicos sobre os investimentos e da contração do consumo das famílias. Por outro lado, avalia que, após um período de ajustes (que pode ser mais extenso do que esperado anteriormente), a economia tende a se recuperar, impulsionada pelo fortalecimento da confiança das famílias e dos empresários. Com isso, o BC revisou para baixo suas expectativas para a variação do PIB neste ano, de uma queda de 1,1% no RTI de junho, para -2,7% no documento deste mês.
As projeções de inflação no cenário de referência (que considera câmbio e Selic estáveis) foram revisadas para cima neste ano e no próximo. A expectativa para o IPCA de 2015 subiu de 9,0% para 9,5%. Para 2016, a projeção passou de 4,8% para 5,3%. Vale destacar que a inflação converge para o centro da meta de 4,5% entre o primeiro e o segundo trimestre de 2017 (4% no terceiro trimestre 2017). No cenário de mercado – que considera as expectativas de mercado tanto para juros quanto para câmbio –, o IPCA subiu de 9,1% para 9,5% neste ano e de 5,1% para 5,4% no próximo. Para o terceiro trimestre de 2017, a projeção alcançou 4,6%.
O Copom entende que as expectativas de inflação ainda se encontram próximas ou na meta de 4,5% nos horizontes de médio e longo prazo. Adicionalmente, argumenta que o aumento das projeções para 2016 é pequeno quando levadas em conta a intensidade da elevação das expectativas para este ano e a “deterioração da percepção dos agentes econômicos a respeito do balanço de riscos e da trajetória fiscal”. Assim, sugere que “esses fatos constituem um claro e importante sinal sobre, de um lado, os progressos obtidos com a implementação da estratégia atual de política monetária, mas, de outro lado, sobre as consequências da deterioração no balanço de riscos”.
Nesse sentido, chama a atenção para “os impactos nos preços dos ativos de expectativas sobre as trajetórias sinalizadas para as variáveis fiscais, especialmente depois de mudanças recentemente anunciadas, mas ainda não consolidadas nas metas fiscais, e do rebaixamento da nota de crédito dos títulos soberanos brasileiros por uma das grandes agências de avaliação de risco”. Na opinião da autoridade monetária, a persistência dessa depreciação dos ativos domésticos, em especial da taxa de câmbio, aumenta o seu potencial de transmissão sobre os preços domésticos.
Em resumo, o Banco Central se mantém vigilante aos riscos presentes no cenário doméstico e internacional e seu possível impacto sobre a inflação local. Por outro lado, as expectativas se mantém em trono da meta de 4,5% no horizonte relevante para a política monetária. Esse balanço de forças, portanto, reforça a sua sinalização de que a taxa Selic deverá manter-se em 14,25% por um período prolongado.
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